Roberto
Ghidini (2012)
rocktusb@gmail.com
Resumo
Este
artigo apresenta o conceito de reciclagem subdividido em duas novas formas de
ver este processo, tão necessário em função da escassez de materiais e também
da destinação final dos subprodutos do consumo moderno.
Estes
dois “novos conceitos” são o up-cycling e down-cycling que desde a semântica própria já se pode imaginar como
são.
O
artigo trata de um caso pessoal da aquisição e posterior reabilitação de uma moradia
unifamiliar centenária em um povoado (“pueblo”) espanhol que tem mais de 500
anos e menos de 50 habitantes.
Palavras chave: Up-cycling, down-cycling,
reciclagem e urbanismo
Urban up-cycling - “La Casita
Bonita”
Abstract
This
article introduces the concept of recycling subdivided in two new ways of view
at this process, so necessary in the light of the scarcity of materials and
also of final disposal of products of modern consumption.
These
two "new concepts" are the up-cycling and down-cycling since the semantics
itself can already imagine how are.
The
article is a personal case of acquisition and subsequent rehabilitation of a single-family
residence centenary in a village (pueblo) Spanish which has more than 500 years
and less than 50 inhabitants.
Keywords: Up-cycling, down-cycling, recycle and
urbanism
O Reciclar:
Indiscutivelmente necessário.
Derivado
do conceito tradicional de reciclagem, surgem dois conceitos que se auto
explicam, mas que faremos mesmo assim algumas considerações: Up-cycling e down-cycling.
Convém salientar, que o consumo
consciente é sem dúvida o melhor meio para evitar a geração de resíduos. Os
atuais padrões de produção e consumo, normalmente ignoram esse “mandamento” e
se utilizam das facilidades produtivas e da logística de distribuição para
alcançar o maior numero possível de consumidores e o máximo possível de vendas
de um determinado produto, implicando muitas vezes em função disso, ao longo de
seus ciclos de produção-distribuição em uma enorme quantidade de resíduos que
acaba ficando nas mãos do consumidor final, tendo esse o ónus de dar destino
aquilo que foi a embalagem do seu desejo de consumo.
A tarefa e reciclar, tornou-se assunto
obrigatório nas urbes, em função deste modelo que substituiu a venda a granel de
produtos regionais, pela venda em quantidades predefinidas de produtos globais.
Antigamente comprávamos 100
gramas disso, 300 gramas daquilo, hoje só podemos comprar as
quantidades que vem na lata, na malha de plástico ou no “tetra-pack” entre
outras embalagens comerciais.
Na
reciclagem existem atualmente dois conceitos: O up-cycling -é a reciclagem positiva. É aquela onde não se emprega
muita energia para fazer com que algum objeto ou produto que está em desuso
possa voltar a ser utilizado, já o down-cycling
é a reciclagem onde para obter-se a reutilização de algo, temos que
empregar processos de transformação que implicam em grande consumo energético.
A
maioria dos processos de reciclagem é na verdade constituída por processos down-cycling pois tratam-se de
transformar o material coletado em matéria-prima para que esta, mais tarde, em
outro processo industrial volte a ser algum objeto. Exemplos temos com garrafas
“pet”, latinhas de alumínio, papel, garrafas de vidro, etc. Todos esses
materiais, uma vez recolhidos, são submetidos a processos mecânicos ou térmicos
e volam a ser matéria prima (fios ou fibra de nylon, lingotes de alumínio ou
bobinas de papel ou novamente garrafas, no caso) e depois disso ou a partir
deste, são produzidos escovas, vassouras, tecidos, objetos de uso doméstico,
livros ou bem papel virgem para ser reutilizado e garrafas.
Os processos denominados up-cycling seguem uma outra lógica, onde
os materiais -na maioria dos casos compostos – são reaproveitados da forma como
realmente são, ou seja: Uma cadeira velha, apenas é recuperada e volta a ser
uma cadeia (bem poderia haver sido triturada para que das fibras de sua madeira
fosse produzido algum aglomerado para a produção de laminas e estes usados para
produção de moveis no processo down-cycling
por exemplo).
Nestes dois processos, existe o
conceito de reciclagem muito claro. Ambos dependem e uma coleta seletiva para
posterior tratamento e ambos tem um ciclo parecido desde a participação
coletiva no processo, sem o qual, se torna muito difícil a reciclagem de
produtos. Ambos tratam de utilizar “coisas” que já não mais são úteis ou que
não mais possam ser utilizáveis da forma como estão e por quem as tem e são de
uma maneira transformadas em um produto que possa vir a ser utilizado. A grande
diferença está na forma e consequentemente na aplicação de energia que se faz
necessário para o resultado final dos dois processos.
Algumas iniciativas no sentido de produzir
processos up-cycling são anteriores
mesmo a criação do próprio termo, como é o caso do mercado de roupa usada (os
tradicionais “brexós”) os mercados de móveis usados e de automóveis de
segunda-mão.
Outras iniciativas e não tão frequentes
são os “garage sales” americanos e os “car boots” ingleses, que são iniciativas
comunitárias (as vezes individuais) de venda de produtos (na maioria dos casos
domésticos) em desuso.
Tiveram suas origens, nos anos 60, nas ruas dos bairros em
frente das garagens e com o passar do tempo, adquiram vulto e hoje são
realizadas em pátios de colégios, supermercados ou em terrenos vagos nas aforas
das cidades normalmente nos domingos de manha e recebem a visita de inúmeros
vendedores e compradores de quinquilharias. O que não é útil para mim pode ser
para você e vice-versa. Essa é a ideia básica.
Figura 1 – Car boots em Londres. Bom exemplo
de processos up-cycling
Estas iniciativas, fazem com que várias
“coisas” que dentro do conceito e dos padrões atuais de produção e consumo
fossem consideradas como lixo e assim sendo, com muita boa vontade, seriam
depositadas em seus respectivos locais de recepção do lixo, seletivamente
conforme sua constituição física.
Em
alguns casos, iria para alguma central de reparação (por exemplo fogões,
geladeiras, lavadoras – linha branca – onde pudessem ser reparados e revendidos
ao consumidor). Existem ainda entraves com respeito a garantias, etc. que
incidem sobre a venda de forma organizada como essa feita através de coletas
seletivas, reparação e posterior venda ao público.
Assim,
os processos de reciclagem do tipo up-cycling
vão ocorrendo, de forma espontânea e dependente da ação popular muito mais
do que por meios e políticas públicas como é o caso dos processos de down-cycling que normalmente são
assistidos por ações governamentais.
O Reciclar no urbanismo
No
urbanismo, ocorre algo parecido. A dita “renovação urbana” passa pela
reciclagem de zonas urbanas inteiras, normalmente propõe colocar tudo abaixo e
construir tudo novo. Indubitavelmente estamos falando de um processo down-cycling.
Evidentemente,
que as moradias de um ou dois séculos atrás, não tem a mesma tecnologia sobre
tudo no que diz respeito ao conforto térmico, a acessibilidade e certos
conceitos de higiene, que as produzidas atualmente, mas por outro lado, tem a
robustez que as fez sobreviverem por mais de 100 ou 200 anos e que ainda estão
em condições – ainda que não totalmente satisfatórias – de uso e em muitos
casos, estão localizadas em zonas centrais de grandes cidades.
Assim,
igual que um automóvel dos anos 40, ou um móvel de 1800, um edifício ou bem uma
residência unifamiliar, podem – e devem -ser objetos de restauração ou bem de
uma reabilitação o que seria um processo up-cycling.
Numa
escala um pouco mais ampla, podemos chegar a uma infinidade de “povoados”
(“pueblos”) que em um passado as vezes longínquo outras nem tanto foram por
algum motivo perdendo seu protagonismo e sua capacidade de reter sua gente e
até mesmo atrair pessoas de fora. Foram então, perdendo população que migraram
normalmente para centros maiores atraídos pela oferta de trabalho, moradia,
qualificação, enfim por aquilo que seriam melhores condições de vida.
Atualmente,
com a derroca do emprego formal, que com a mecanização dos processos
industriais e comerciais, substituiu grande quantidade da mão de obra por maquinas,
também pela implantação e implementação dos terminais de auto-serviço e dos
serviços informáticos que podem ser realizados diretamente pelo consumidor, sem
a necessidade de um vendedor ou de um atendente, a redução do efetivo de
trabalhadores se faz notar nos grandes centros.
Vem
de encontro, a necessidade da retomada do campo e de seus povoados que se num
assado foram deixados por que os grandes centros ofereciam vantagens, hoje
tornam-se interessantes pela possibilidade de voltar a uma vida menos dura da
cidade grande e com outras possibilidades de levar a diante trabalhos pessoais,
seja no campo mesmo (cultivos, criações, extrativismo, etc.) seja na produção
intelectual ou em trabalhos não presenciais, que possam ser executados em casa
por exemplo, entre tantos outros modos de ganhar a vida.
Assim,
em países como a Espanha especificamente, porém de uma maneira geral em toda Europa,
encontraremos situações parecidas: pequenos “pueblos” com séculos de vida e com
apenas algumas dezenas de habitantes. Existem por tanto mais casas que pessoas
nestes lugares.
Um
movimento conhecido como “slow cities” teve origem em outro iniciado
anteriormente (slow food) que se contrapunha aos fast-foods, propondo a
alimentação com prazer da degustação e de uma boa digestão e se possível
acompanhada de uma breve “sesta” no lugar de comer um hambúrguer
industrializado em 10 ou 15 minutos e voltar correndo ao trabalho, o slow
cities ou inicialmente “Cittaslow” (teve origem em Orvieto – Itália em 1999) propôs
que pequenos pueblos voltem a ter comercio local, vida própria, alimentação a
base de produtos locais, etc. Que as vias de circulação sejam preferente para
pedestres e ciclistas, mas que no caso de circularem veículos a motor, seja com
velocidade limite de 30 km/h.
O
slow cities, ganhou uma enormidade de adeptos e existem como uns 500 ou mais
comunidades atualmente participantes desta rede de cidades cujo objetivo maior
é manter seus cidadãos envolvidos com a realidade de seus municípios e estes
inseridos em um conceito de manutenção das tradições e por conseguinte gerando
um processo altamente up-cycling.
O “nosso” caso: Busca e captura!
Há
questão de uns dois anos atrás, nos pusemos (Joy – a esposa – e eu) a buscar
algo assim: Uma casa, num “pueblo” pequeno, que fosse possível restaurá-la com
nossas próprias mãos. Quero dizer: Fazer um up-cycling
urbano.
Já
tínhamos algumas experiencias anteriores tanto com imóveis (sou engenheiro
civil e havia trabalhado com algumas obras de restauração e também temos um
imóvel de 1928 que “reformamos” – sem muitas alterações, mas neste caso com mão
de obra de outros) como com móveis, roupas, etc. (Joy é PhD no assunto, não
pode ver uma cadeira no lixo, ou mesmo roupas em brexós: leva sempre para casa,
“customisa”, reforma, dá-lhes sobre vida).
Figura 2 – A reforma da Casa Leal
(1928) em obras e concluída - Curitiba - 1994
A
busca seguiu um critério que seria encontrar algo dentro de nossas limitações
económicas não somente para a aquisição, mas para cumprir todo o processo ou
seja, adquirir, documenta, pagar os impostos de compra, reabilitar e poder usar
este imóvel de forma quase que como nossa casa ou residência.
Como
método, utilizamos a busca por portais de internet e quase que prioritariamente
o “idealista”. Encontramos uma centena de imóveis ao longo de um ano de busca.
Contactamos a umas dezenas de proprietários e visitamos a umas 30 ou 40 casas,
até nos decidirmos pela que compramos. Não tínhamos nenhuma pressa, nem
estávamos necessitando faze-lo. Buscávamos comprar algo que fosse-nos
conveniente e creio que muitas outras pessoas poderiam fazer o mesmo.
Após
havermos topado até mesmo com palacetes do século XVIII em estado razoável e
por um valor relativamente irrisório (assim digo pois a reabilitação ou
restauração do mesmo poderia sair excessivamente cara) e também com verdadeiras
ruínas que para deixá-las úteis, os processos regenerativos do tipo up-cycling não seriam os mais indicados,
finalmente encontramos (e ela a nós) uma “simpática” casinha do ano de 1930
geminada a outra de 1900, esta já toda demolida, ao menos a parte que se
entremeava com a primeira (uma peça no térreo e outra no andar de cima), no
pueblo de Villar del Infantado – Cuenca.
Figura
3 – Palacete visitado em Villamuriel e casa em ruína em Arenillas de Villadiego
ambos produtos interessantes para serem reabilitados.
A
casa tem a composição básica das casas consideradas como elementos da
arquitetura popular desta zona e está composta por 3 níveis: No terreo está o “portal”
– entrada para a casa, sala, cozinha e banheiro, num pavimeto superior está a “alcoba”
– os quartos ou “habitaciones” e em um terceiro piso, mais acima, está a
“câmara” – algo como um grande depósito onde ficavam os grãos das colheitas, as
ferramentas de trabalho no campo, etc. Está construída de pedra arenítica, madeira
e alguma coisa de elemento cerâmicos. Suas telhas são as originais da casa do
tipo colonial.
O
piso no pavimento superior (alcoba) é todo em ladrilho hidráulico (baldosas)
decorado em 3 cores, original da casa. As janelas e a porta do balcão superior
em madeira e a porta e janela do banheiro em ferro feita por serralheria.
Figura 4 – Esquema construtivo da
arquitetura tradicional popular da Alcarria.
Tivemos
que voltar dois ou três dias após a visita para comprovarmos o que havíamos
visto e se efetivamente era o que queríamos e então fechamos a compra da que
fora a propriedade de D. Dioniso Beneit, antes de D. Maximiliano (até 1953) e
no momento da compra das herdeiras Jacinta, Maricarmen e Marisa. Desde a vista
inicial até a assinatura da escritura no notário não passaram sequer duas
semanas.
A
aquisição portanto foi de dois imóveis – um de 1930 que continha a casa e outro
com dois cómodos metidos entro da planta da casa edificados em 1900 e um pedaço
de terreno, de aproximadamente uns vinte dois metros quadrados. Era o que
buscávamos. A “casita” estava localizada a 140 km de Madrid e em ponto
de colocarmos em marcha um up-cycling.
Além de tudo tinha um “quintalzinho” para fazer um jardim, uma hortinha. Era o
que queríamos.
Up-cycling urbano – “La Casita Bonita”
Villar del Infantado teve origem Celta
há muitos séculos atrás. Ainda há resquícios de sua permanência que diz a
história haver sido de alguns séculos. Na conquista “moura” (entre 743 e 1492),
teve em sua montanha o que ainda chamam de “castillo” que foi certamente a
residência de algum árabe, que criva cavalos nas terras da “alcarria cuenquense” onde está os
términos municipais do “pueblo”. A igreja, marco do cristianismo, data do
século XVI e é em homenagem a Santiago Apóstolo, embora o Santo padroeiro seja
São Roque (16 de Agosto é a festa maior).
Figura
5 – O “pueblo” visto desde “El Castillo” – montanha em frente. Ao fundo
Olivares e terras de cultivo.
No “pueblo”, existe uma fonte de água cujo
manancial é o mesmo que uma das melhores águas minerais engarrafadas e vendidas
na Espanha e na Europa (Solan de Cabras) e o rio que irriga as terras de
cultivo, é um dos braços formadores da represa de “Buen Dia”. A atividade
predominante é a agricultura (hoje massiva) e a pecuária caprina.
Figura 6 – A fonte de água do “pueblo”.
Existem 50 pessoas “empadronadas” (residentes de fato) no “pueblo”
embora a quantidade de casas seja muito maior. Existe um grande percentual de
imóveis já em ruína, por outra parte existe construções novas, que acabam de
ser concluídas.
Durante
as duas semanas que separaram a ida inicial ao imóvel e a compra do mesmo,
fizemos alguns planos iniciais para o que seriam as obras de reabilitação da
casa.
Primeiro
de tudo, teríamos que desocupar a casa, pois havia sido transformada em um
“trastero” (deposito de coisas que não se usa mais). Procuramos com isso
fazê-lo de maneira mais up-cycling
possível. As roupas foram levadas todas a igreja de Alcocer (um pueblo ao lado,
que tem um programa de caridade na igeja). Os objetos pessoais e móveis foram
na medida do possível utilizados na própria casa.
Eletrodomésticos
(tinham mais de 20 anos a maioria e já se encontravam bastante deteriorados
pelo uso anterior e o desuso nos últimos anos) foram levados ao “punto límpio”
(local destinado para receber materiais deste tipo e no caso serem processados
de forma down-cycling).
Figura
7 – Maquina de lavar roupa, geladeira e mais acima e ao lado aquecedor a gás de
passagem, que foram retirados e levados ao “punto limpio”
Uma
vez retirados os objetos não desejáveis e armazenados na câmara aqueles que
seriam posteriormente recuperados por nós mesmos, tratamos de contratar uma
mão-de-obra local para realizar os serviços brutos (demolições e algumas
construções novas) no interior da casa. Estes serviços, além de pesados para
realizarmos, dependeriam de equipamentos e transportes de materiais, que tão
pouco tínhamos a disposição.
Abrimos
a casa ao terreno que futuramente seria nosso jardim-horta. Nesta abertura,
depois, colocamos uma porta que era de um dos quartos da alcoba. Porta
seguramente dos anos 1900 e destinada para uso externo. Através desta abertura
e antes da colocação da porta, foi por onde retirou-se o material da demolição
da chaminé e das paredes internas.
Havia
uma chaminé que cruzava de cima a baixo todo o corpo da casa, que antigamente
fora a chaminé da cozinha da casa que já havia sido demolida. Não tinha
utilidade alguma portanto e havia que realizar algumas aberturas entre as peças
desta e da outra casa, além de uma reforma substancial no banheiro, incluindo
instalações hidráulicas e sanitárias novas.
Figura
8 – Abertura ao terreno dos fundos e início da demolição da chaminé na câmara
da casa.
Havia
também a necessidade de colocação de um balcão em uma porta-janela exterior que
mandamos fazer sob medida em um ferreiro em Cañaveras (um outro “pueblo” da
região).
A
execução destes serviços durou aproximadamente um mês, antes já havíamos
tardado quase um outro mês em “desalojar” o imóvel e em encontrar a um
empreiteiro local que se dispusesse a realizar os serviços que desejávamos.
Figura 9 – Obras em andamento.
Figura 10 – Obras em andamento.
Acondicionamento e instalações do banheiro
Figura 11 – Avanço das obras.
Figura 12 – Situação externa:
porta colocada e com o balcão na segunda imagem.
Findadas
as obras de maior envergadura, nos pusemos a realizar os serviços de acabamento
interno e de recuperação de objetos e móveis deixados na casa, além de execução
das instalações elétricas e de execução da cozinha e de algumas prateleiras que
serviriam como armário, no que antes era um quarto e hoje é uma saleta íntima.
Figura 13 – Poltronas (“sillones”)
em início de restauração.
Pintamos
toda a casa, incluindo o lixamento e a aplicação de gesso nas trincas das
paredes, instalamos a estufa e seu chaminé metálico, retiramos um armário
existente em alumínio e vidro que era a antiga “despensa” (este levado pelo
empreiteiro para reaproveitamento), executamos alguns acabamentos como pequenas
esquinas de paredes internas.
Figura 14 – Pintura da saleta
íntima.
Figura
15 – Execução de algumas esquinas em alvenaria com “rasillón” e “escayola” – no
caso na cozinha.
Concluímos
alguns serviços que foram deixados no bruto, como o piso do quarto de hóspedes
e a regularização das soleiras das passagens nas aberturas dos cómodos da
“alcoba”. Colocamos a porta-janela do quarto de hóspedes, que fora encomendada
sob medida ao serralheiro de Cañaveras.
Figura 16 – Porta-janela colocada
e piso acabado no quarto de hóspedes.
Recuperamos
o madeiramento das vergas do teto da planta baixa e a viga principal que é uma
peça única em madeira lavrada que em outros tempos fica oculta sob argamassa de
gesso e que agora está aparente.
Figura 17 – Viga principal e
vergas de madeira lixadas e aparente.
Quando estávamos iniciando a pintura,
decidimos colocar-lhe nome a casa e o que nos ocorreu foi “Bonita”. Realizamos
um mosaico com pedacinhos de cerâmica de azulejos azul e vermelho e finalmente
passou a chamar-se “La Casita Bonita”.
No inverno, mais precisamente o mês de
Dezembro, passamos todo na casita. Foi quando executamos a cozinha com piso de
laminado de madeira sob contra piso de argamassa de cimento e areia, e tampos
executados com material próprio para isso. Para trazer esse material, bem como
geladeira, máquina de lavar, placa de vitrocerâmica, alguns móveis igualmente
adquiridos em loja e móveis usados, tivemos que alugar uma furgoneta por 24
horas. Fizemos o recolhimento de tudo e transportamos até a casa em uma única
viagem.
Figura
18 – Tampo da cozinha com pia e fogão elétrico (vitrocerâmico) embutidos,
geladeira, maquina de lavar e ao fundo chaminé metálico da estufa instalada.
Ainda durante este mesmo inverno, contratamos
a um obreiro de Valdeolivas (outro “pueblo” vizinho) para executar a alvenaria
com blocos de concreto e a colocação dos pilaretes metálicos para delimitar o
terreno dos fundos da casa.
Figura
19 – base do muro delimitador do terreno dos fundos onde será mais tarde
jardim-horta da casa.
No início deste verão, retomamos as
obras e a restauração dos móveis, que fora interrompida após o inverno devido
ao foco no nascimento de nossa netinha (inicio de Abril) em Figueira da Foz –
Portugal.
O primeiro foi concluir o jardim-horta,
demarcando os canteiros e colocando um fechamento executado em tiras de bambu
vendido em rolos de 5
metros por um. Pintamos também as portas e janelas da
fachada principal e substituímos o lavatório do banheiro, que havíamos deixado
o que estava, mas devido ao tamanho dificultava a mobilidade interna. Assim com
um bem pequeno que havíamos visto em uma loja de material hidráulico em Cuenca
(capital da província), resolvemos o problema. Na parede executamos um mosaico
com sobras de azulejos e alguns porta copos cerâmicos.
Figura 20 – Jardim-horta em seu
início.
Figura
21 – piso da “terraza” do jardim-horta para desfrutar do ar livre e tomar a
“fresca” pelas ardes quentes do verão ibérico.
Figura
22 – Cozinha com cortinado na parte inferior do balcão e o novo lavatório do
banheiro com o mosaico na parede. Em ambas imagens se nota os problemas com a
pintura do pavimento térreo.
O processo até o presente momento leva
já um ano. A casa está cómoda, embora existam problemas com a pintura do piso
térreo e com a colocação do termoelétrico no banheiro (embora esteja funcionando
de maneira bastante satisfatória) e alguns outros tantos derivados da própria
idade do imóvel.
Figura
23 – Aspecto atual da sala de estar onde está a estufa, os “sillones” e a mesa
de centro.
Figura
24 – Saleta íntima com armários laterais (cortinado) à chaminé em alvenaria que
conduz ao telhado a fumaça da estufa a lenha da sala do térreo.
Figura 25 – Quarto (habitación)
principal
Figura 26 – Quarto (habitación)
para hóspedes.
Estamos muito contente com o resultado.
Gostaríamos que outros imóveis do “pueblo” fossem igualmente recuperados e que
outros “pueblos” também pudessem ter essa mesma oportunidade que estamos dando,
promovendo um up-cycling imobiliário
e talvez até mesmo que se pudesse neste momento de crise, haver incentivos para
projetos de recuperação de municipalidades inteiras, procurando preservar ao
máximo os imóveis existentes, gerando processos up-cycling urbanos, reduzindo as demandas para a construção e sim
utilizando-a para a reabilitação que é um processo que demanda menos energia,
materiais e mão de obra.
Evidentemente, que associado a um
processo de recuperação do tecido urbano, deve haver algum projeto de
recuperação do tecido comercial, não implicando diretamente na promoção de
postos de trabalho, estes cada dia mais distantes da realidade, pois o trabalho
já não mais existirá creio eu, mas na promoção de modos de viver alternativos
com o retorno a algumas atividades do campo e da vida mais simples e mais
humanizada que esta situação possa vir a promover. Algo como a direção em que
caminha o coletivo das cidades slow.
Figura
27 – Fachada em que a alteração consistiu na pintura dos elementos (porta,
balcão metálico, porta do quarto e janelas) na cor branca, que originalmente
eram em cor verde.
Falta-nos ainda concluir o uso total do
imóvel, com a recuperação da câmara, que encontra-se desocupada total e é um espaço
genial, bastante acolhedor. Tem a área em planta da casa toda (42 m2) e bastante altura
(varia de 4,5 m
a 2,0 m),
podendo ser utilizada em sua totalidade.
Figura 28 – Aspecto actual da
câmara.
Será dado uso
lúdico-recreativo-profissional, ou seja dera um ambiente polivalente que
contemplará ao mesmo tempo espaço para trabalhos manuais e intelectuais, bem
como para recreação – algo como um pequeno estúdio musical talvez – e um espaço
para deixarmos nossos livros, fotografias, etc. que por ora ainda estão em
caixas e nos armários.
Estou
seguro de que o que fizemos em um ano, com nosso trabalho pessoal e com a
contratação de algumas partidas específicas de mão-de-obra, é possível de ser
realizado por qualquer pessoa ou casal ou família e o resultado será sem dúvida
satisfatório.