Roberto Ghidini[1]
(2012)
Este
estudo tem por objetivo, comprovar como é o deslocamento das pessoas ao longo
de uma rua, segundo a incidência do sol em uma ou outra das calçadas desta via.
O
experimento foi realizado em Madrid, no ano de 2007, durante a pesquisa para
produção do livro “La ciudad paseable” (POZUETA, 2009) que estudou vários
comportamentos de pedestres com relação às situações urbanas para definir
padrões de excelência para a caminhabilidade.
Madrid
é uma cidade que tem duas estações bem definidas. Um verão escaldante e seco
com temperaturas que chegam aos 40º C e um inverno rigoroso com temperaturas
que baixam de zero. Assim, para não trabalharmos em situações extremas, que
evidentemente influenciariam de maneira contundente os resultados (se supõe que
no inverno frio, as pessoas possam ir ao sol para aquecer-se e que no verão
tórrido buscaram a sombra para evitar o calor), optou-se fazer o experimento no
início do outono, e foram elaborados os experimentos de campo precisamente
entre os dias 24 e 27 de setembro.
O
estudo foi realizado em 10 ruas e distribuído em 40 postos de contagem onde
foram realizadas contagens matinais e vespertinas da quantidade de pessoas que
passavam em cada uma das calçadas (em uma delas havia sol e na do outro lado
sombra).
Para
a realização do estudo, foram escolhidas ruas com orientação norte - sul ou bem
nordeste - sudoeste, para que pudéssemos ter a situação desejada, ou seja, sol
em uma calçada pela manha (a calçada de oeste e sombra na calçada do leste) e a
inversão da situação pela tarde (sol na calçada leste e sobra na calçada
oeste).
As
ruas escolhidas foram de tal maneira, que não existisse nada como um ponto de
atração em uma das calçadas, que pudesse fazer com que naquele lado houvesse um
maior fluxo que do outro, bem como que houvesse uma concentração bastante
próxima de comércios em cada uma das calçadas, que não houvesse tão pouco algum
incidente ou alguma restrição ao caminhar em uma das calçadas, que obrigasse a
travessia da rua.
Os locais de contagem foram
portando distribuídos em três grupos assim denominados:
1) Salamanca
2) Pablo Neruda
3) General
Ricardos
Figura
1 – Mapa parcial de Madrid e localização das zonas 1, 2 e 3.
O primeiro grupo
(Salamanca), está composto por 3 ruas (calles):
·
Calle Velásquez,
·
Calle Lagasca, e
·
Calle Núñez de Balboa.
Na primeira rua (Velásquez)
contaremos 10 postos com período de 9 minutos cada e nas outras duas, cinco
postos em cada uma com 6 minutos cada.
Figura
2 – Croqui da Zona 1 e localização dos Postos de Contagem.
O grupo 2, "Pablo
Neruda", decidimos contar em 6 “calles” ortogonais à Calle Pablo Neruda, sendo
em 4 delas, repetida em uma segunda estação de contagem a uns pontos em outra quadra. Todos os 10
pontos terão um período de contagem de 6 minutos cada.
Figura
3 – Croqui da Zona 2 e localização dos Postos de Contagem.
O grupo 3 está constituído
por somente a Rua General Ricardos, onde se propôs contar 10 postos com 6
minutos de contagem em cada um deles.
Figura
4 – Croqui da Zona 3 e localização dos Postos de Contagem.
As
contagens serão realizadas, apontando os resultados em fichas contendo 15
campos a serem preenchidos. As fichas para cada estação serão feitas uma pela
manhã e outra pela tarde, de acordo com os horários que previamente serão
definidos.
Os
campos a serem preenchidos são os seguintes:
1)
Calle – Rua em que se realiza a contagem;
2)
Estación – Posto de contagem, identificado com o número.
3)
Fecha – dia que se realiza a contagem.
4)
Horario de inicio: horário efetivo do inicio da contagem;
5)
Horario de Término: horário efetivo do término;
6)
Tiempo en el
inicio: Será utilizado a convenção "S" o "N", que respectivamente simbolizam
a "soleado" o "nublado".
Observação:
A contagem deverá ser interrompida no caso de que a situação não seja de sol,
pois tem que estar claro que se pretende confrontar a situação de caminhar ao
sol e à sombra. Entende-se por “soleado”,
quando se notam sombras nítidas y pronunciadas. Caso as sombras inexistam ou
sejam borradas, se trata de “nublado”.
7)
Tiempo al
final: o mesmo que para o inicio.
8)
Acera Este: Verificar no croqui orientado, para informar os
dados obtidos das observações corretamente. Estas são aquelas que pelas manhas
se encontram à sombra e a tarde ao contrário.
9)
Acera Oeste: Verificar no croqui orientado, para informar os
dados obtidos das observações corretamente. Estas são aquelas que pelas manhas
se encontram ao sol e a tarde ao contrário.
10)
Adultos: Será apontado para as duas calçadas e durante o
período de contagem, os pedestres, que na grande maioria são os adultos.
11)
Madres con hijos: Se aponta neste campo, uma unidade
para cada mãe, que leva um ou mais filhos, podendo estes estar em carrinhos ou
caminhando. Assim que uma mãe + un
carrinho + 2 filhos = 1 unidade.
12)
Niños solos: considerar somente crianças até 12 anos que não
estão acompanhados de adultos.
13)
Mayores o jubilados: Se anotam os idosos (+65 anos).
14)
Observaciones: Se houver alguma incidência notável.
15)
Tiempo efectivo: Neste campo pretende-se que seja
anotado o tempo efetivamente utilizado para a coleta de dados, pois no caso de
que o sol fique encoberto por alguma nuvem e o tempo fique momentaneamente
nublado, a contagem deve ser suspendida, assim, que os dados poderão não
corresponder ao tempo total entre inicio e fim e por tanto, necessitaremos
saber o tempo efetivo da contagem.
Modelo
para a ficha de campo:
Figura
5 – Ficha de Campo para os contadores.
DEFINIÇÃO
DOS HORÁRIOS PARA AS CONTAGENS
Os dias prévios aos
programados, concretamente nos dias 17, 18, 19 e 21 de setembro, através de
idas às zonas definidas, foram estabelecidos os horários matinais e vespertinos,
ajustando os intervalos entre um e outro y os períodos de contagem a serem
realizados nos dias programados.
Procurou-se, a situação em
que ao iniciar a contagem pela manhã, a situação fosse sol em uma calçada (W) e
sombra na outra (E) e que no período da tarde a situação fosse a aposta.
Os horários determinados
para as contagens:
Tabela
1 – Plano de trabalho por Zonas, ruas, tempos e dias de contagem.
OS DIAS DE CONTAGEM
Entre os dias 24 e 27 de
setembro, foram realizadas as contagens, sem que tenha ocorrido nenhuma
anormalidade. Os dias foram limpos, sem nuvens em sua plenitude, produzindo o
que desejávamos, ou seja, situações bem definidas de sol (com sobras nítidas) e
de sombra.
As temperaturas, para a
sondagem, foram as desejáveis, tendo sido mais altas nos primeiros dias (24 y
25) e mais frescas nos últimos dois dias (26 y 27) sendo que no último dia
verificamos 7 graus menos que na média do primeiro dia.
Figura
6 – Temperaturas registradas nos dias de Contagem – Fonte AEMET.
Para melhor
operacionalidade, foi contado nos 2 primeiros dias na zona 1 e os outros 2 nas
zonas 2 e 3, assim que os dos dias de temperaturas mais elevadas, refletem o
comportamento nas ruas Velásquez, Lagasca e Núñez de Balboa e os dias mais
frescos, o comportamento das ruas transversais à Pablo Neruda e a General
Ricardos.
Na seqüência, apresenta-se,
o resumo do resultado verificado nas contagens das 3 zonas, com as incidências
médias de pedestres (em pedestres por posto de contagem) nas calçadas de sol e
de sombra, somadas manhãs e tardes respectivamente no primeiro gráfico e no
segundo, a situação discriminada entre manhãs e tardes.
Figura 7 – Média de
pedestres verificadas em cada zona por situação (sol ou sombra nos dois
períodos (manhã e tarde juntos).
Figura 8 – Média de
pedestres verificadas em cada zona por situação - sol ou sombra - por períodos
em separado (manhã e tarde)
Figura 9 – Média de
pedestres por minuto, verificadas em cada zona por idade e tipologia
previamente definida para o estudo.
As contagens dos diferentes
grupos, nos puderam dar uma idéia com relação à tendência do caminhar das
pessoas sob a influência do sol ou melhor sob a incidência solar.
Há sido possível, perceber,
diferentes comportamentos no uso de uma ou outra calçada, aparentemente em
função deste único fato: a insolação.
As análises dos postos de
contagem do grupo 2 não nos elucidam muita coisa, devido à baixa utilização
destas ruas nos períodos determinados para o estudo entretanto nas “calles” do
grupo 1 e 3 temos situações de tráfego intenso de pedestres (entorno de 12 por
minuto) e podemos fazer as análises dos resultados que desejamos.
ANALISE
DOS RESULTADOS
Pode-se perceber, que mesmo
dadas às condiciones amenas do clima, que não as extremas do verão nem tão
pouco de inverno, existe uma tendência do comportamento dos pedestres ao uso da
calçada sombreada, invertendo-se por tanto o lado da rua com maior freqüência
pela tarde, com relação ao da manhã, conforme verificamos na figura 8.
Devido talvez aos horários
de contagem e mais ainda em função das temperaturas mais elevadas (algo da
ordem de 6 a 7 graus centígrados) nos dias das contagens da zona 1, com relação
à zona 3, pudemos verificar uma maior incidência de pedestres na calçada
sombreada que na ensolarada, chegando a uma relação de 58% mais no período da
manhã e 17% mais no período da tarde, sendo que na zona 3 os percentuais
registrados foram de 24% e 3% para os períodos da manhã e tarde,
respectivamente.
Observando com mais detalhe os resultados da zona
3, percebeu-se uma inversão de tendência no posto de Contagem nº 7,
apresentando este, um resultado invertido no horário da manha com 71 pedestres
na calçada oeste (ensolarada) e 34 na calçada leste (sombreada) e uma quase
igualdade no período da tarde: 59 na calçada leste (ensolarada) e 57 na calçada
oeste (sombreada).
Figura 10 – Situação da
contagem nos 10 P.C. da Calle General Ricardos.
Buscando uma explicação para
o fato isolado, percebemos que este posto de contagem, está localizado em
frente a uma estação de metrô, igual que o posto nº 5 onde também existe uma
aproximação de resultados entre manhãs (49/45) e tardes (47/44).
Assim podemos pensar que
temperaturas menores e um ponto de atração (embora nos dois lados da rua), como
as estações do metrô, que possivelmente tenham alterado a contagem nestes dois
postos, possam ser responsáveis pela diminuição da relação entre estes dois
grupos ou zonas do estudo.
Em qualquer caso, mesmo com
uma diferença pouco expressiva obtida no período da tarde do dia 26 de setembro
na Calle General Ricardos (apenas 3%), ainda assim, em todas as situações,
houve sempre uma maioria de pedestres utilizando as calçadas sombreadas.
CONCLUSÕES
Vimos que existe uma
tendência clara de que os pedestres em dias de sol forte, mesmo estando em
temperaturas moderadas (entre os 15 e os 25 graus centigrados como a situação
verificada nos casos estudados), prefiram utilizar a calçada que se encontra em
situação de sombreamento, quando a orientação da rua e os horários de insolação
assim o permitem.
Figura 11 – Centro de
Madrid. Ruas exclusivas de pedestre (Calle del Carmen, Calle Preciados, Calle
del Arenale Calle de Tetuan), têm durante o período de verão a colocação de
toldos de proteção para o sombreamento.
O experimento denota,
portanto, que ruas protegidas com árvores frondosas, por exemplo, ou bem outras
situações como marquises, toldos, etc., possam oferecer um melhor conforto aos
pedestres, pois o sombreamento proporcionado pelas mesmas evitaria
possivelmente a necessidade de cruzar a via para buscar a sombra dos edifícios.
Assim evitando-se o cruzamento às vezes desnecessário, poderíamos também, de
forma indireta, melhorar a segurança, evitando ou minimizando a ocorrência de
alguns atropelamentos.
BIBLIOGRAFIA
• BAGNASCO
A. Y LE GALÉS P., 2000 – Cities in Contemporary Europe – Cambridg University
Press – Cambridge.
• BEGUINOT,
C., 1999 - Urbanistica e Mobilità - Università Degli Studi Di Napoli Federico
II, Dipartamento di Pianificazione e Scienza del Território
• HERNANDEZ AJA, AGUSTÍN, 2007 - Madrid Centro: División en
"Barrios Funcionales" - Ciur – Instituto Juan De Herrera (Nº 50)
• POZUETA, JULIO et al,
2009 – La ciudad paseable – Madrid - CEDEX
[1] GHIDINI, Roberto - Engenheiro Civil
(UFPR-1982), com especialização em Engenharia Nuclear (UFPR/CNEN/MME - 1981),
DEA em Urbanística y Ordenación del
Territorio (DUyOT/ETSAM/UPM –
2007) atualmente Vice Presidente
Técnico-Científico da ONG Sociedad Peatonal. É co-fundador de NeReAs. Foi
Engenheiro Civil do DER-PR (1982-1990) e consultor em transporte para FERROESTE
(1989-1990), SANEPAR (1991-1992), COMEC (2003-2004), UPM (2006-2008) y CEDEX
(2008).
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