Observador Urbano

Pretendemos extender o conceito.

Observar e relatar.

É isto que trata o documento-proposta.
Falo ou falemos todos em primeira pessoa. Se a visao for de "um coletivo" quero dizer se estivermos vendo o bem comum melhor, mas falemos sempre por nós mesmos ou ainda "por mim mesmo".

grato,

rg

lunes, 30 de julio de 2012

Up-cycling urbano – “La Casita Bonita”


Roberto Ghidini (2012)
rocktusb@gmail.com


Resumo

Este artigo apresenta o conceito de reciclagem subdividido em duas novas formas de ver este processo, tão necessário em função da escassez de materiais e também da destinação final dos subprodutos do consumo moderno.

Estes dois “novos conceitos” são o up-cycling e down-cycling que desde a semântica própria já se pode imaginar como são.

O artigo trata de um caso pessoal da aquisição e posterior reabilitação de uma moradia unifamiliar centenária em um povoado (“pueblo”) espanhol que tem mais de 500 anos e menos de 50 habitantes.

Palavras chave: Up-cycling, down-cycling, reciclagem e urbanismo

Urban up-cycling - “La Casita Bonita”
Abstract

This article introduces the concept of recycling subdivided in two new ways of view at this process, so necessary in the light of the scarcity of materials and also of final disposal of products of modern consumption.

These two "new concepts" are the up-cycling and down-cycling since the semantics itself can already imagine how are.

The article is a personal case of acquisition and subsequent rehabilitation of a single-family residence centenary in a village (pueblo) Spanish which has more than 500 years and less than 50 inhabitants.

Keywords: Up-cycling, down-cycling, recycle and urbanism


O Reciclar: Indiscutivelmente necessário.

Derivado do conceito tradicional de reciclagem, surgem dois conceitos que se auto explicam, mas que faremos mesmo assim algumas considerações: Up-cycling e down-cycling.

         Convém salientar, que o consumo consciente é sem dúvida o melhor meio para evitar a geração de resíduos. Os atuais padrões de produção e consumo, normalmente ignoram esse “mandamento” e se utilizam das facilidades produtivas e da logística de distribuição para alcançar o maior numero possível de consumidores e o máximo possível de vendas de um determinado produto, implicando muitas vezes em função disso, ao longo de seus ciclos de produção-distribuição em uma enorme quantidade de resíduos que acaba ficando nas mãos do consumidor final, tendo esse o ónus de dar destino aquilo que foi a embalagem do seu desejo de consumo.

         A tarefa e reciclar, tornou-se assunto obrigatório nas urbes, em função deste modelo que substituiu a venda a granel de produtos regionais, pela venda em quantidades predefinidas de produtos globais. Antigamente comprávamos 100 gramas disso, 300 gramas daquilo, hoje só podemos comprar as quantidades que vem na lata, na malha de plástico ou no “tetra-pack” entre outras embalagens comerciais.

Na reciclagem existem atualmente dois conceitos: O up-cycling -é a reciclagem positiva. É aquela onde não se emprega muita energia para fazer com que algum objeto ou produto que está em desuso possa voltar a ser utilizado, já o down-cycling é a reciclagem onde para obter-se a reutilização de algo, temos que empregar processos de transformação que implicam em grande consumo energético.
        
A maioria dos processos de reciclagem é na verdade constituída por processos down-cycling pois tratam-se de transformar o material coletado em matéria-prima para que esta, mais tarde, em outro processo industrial volte a ser algum objeto. Exemplos temos com garrafas “pet”, latinhas de alumínio, papel, garrafas de vidro, etc. Todos esses materiais, uma vez recolhidos, são submetidos a processos mecânicos ou térmicos e volam a ser matéria prima (fios ou fibra de nylon, lingotes de alumínio ou bobinas de papel ou novamente garrafas, no caso) e depois disso ou a partir deste, são produzidos escovas, vassouras, tecidos, objetos de uso doméstico, livros ou bem papel virgem para ser reutilizado e garrafas.

         Os processos denominados up-cycling seguem uma outra lógica, onde os materiais -na maioria dos casos compostos – são reaproveitados da forma como realmente são, ou seja: Uma cadeira velha, apenas é recuperada e volta a ser uma cadeia (bem poderia haver sido triturada para que das fibras de sua madeira fosse produzido algum aglomerado para a produção de laminas e estes usados para produção de moveis no processo down-cycling por exemplo).

         Nestes dois processos, existe o conceito de reciclagem muito claro. Ambos dependem e uma coleta seletiva para posterior tratamento e ambos tem um ciclo parecido desde a participação coletiva no processo, sem o qual, se torna muito difícil a reciclagem de produtos. Ambos tratam de utilizar “coisas” que já não mais são úteis ou que não mais possam ser utilizáveis da forma como estão e por quem as tem e são de uma maneira transformadas em um produto que possa vir a ser utilizado. A grande diferença está na forma e consequentemente na aplicação de energia que se faz necessário para o resultado final dos dois processos.

          Algumas iniciativas no sentido de produzir processos up-cycling são anteriores mesmo a criação do próprio termo, como é o caso do mercado de roupa usada (os tradicionais “brexós”) os mercados de móveis usados e de automóveis de segunda-mão.

         Outras iniciativas e não tão frequentes são os “garage sales” americanos e os “car boots” ingleses, que são iniciativas comunitárias (as vezes individuais) de venda de produtos (na maioria dos casos domésticos) em desuso. Tiveram suas origens, nos anos 60, nas ruas dos bairros em frente das garagens e com o passar do tempo, adquiram vulto e hoje são realizadas em pátios de colégios, supermercados ou em terrenos vagos nas aforas das cidades normalmente nos domingos de manha e recebem a visita de inúmeros vendedores e compradores de quinquilharias. O que não é útil para mim pode ser para você e vice-versa. Essa é a ideia básica.


Figura 1 – Car boots em Londres. Bom exemplo de processos up-cycling

         Estas iniciativas, fazem com que várias “coisas” que dentro do conceito e dos padrões atuais de produção e consumo fossem consideradas como lixo e assim sendo, com muita boa vontade, seriam depositadas em seus respectivos locais de recepção do lixo, seletivamente conforme sua constituição física.

Em alguns casos, iria para alguma central de reparação (por exemplo fogões, geladeiras, lavadoras – linha branca – onde pudessem ser reparados e revendidos ao consumidor). Existem ainda entraves com respeito a garantias, etc. que incidem sobre a venda de forma organizada como essa feita através de coletas seletivas, reparação e posterior venda ao público.

Assim, os processos de reciclagem do tipo up-cycling vão ocorrendo, de forma espontânea e dependente da ação popular muito mais do que por meios e políticas públicas como é o caso dos processos de down-cycling que normalmente são assistidos por ações governamentais.



O Reciclar no urbanismo

No urbanismo, ocorre algo parecido. A dita “renovação urbana” passa pela reciclagem de zonas urbanas inteiras, normalmente propõe colocar tudo abaixo e construir tudo novo. Indubitavelmente estamos falando de um processo down-cycling.

Evidentemente, que as moradias de um ou dois séculos atrás, não tem a mesma tecnologia sobre tudo no que diz respeito ao conforto térmico, a acessibilidade e certos conceitos de higiene, que as produzidas atualmente, mas por outro lado, tem a robustez que as fez sobreviverem por mais de 100 ou 200 anos e que ainda estão em condições – ainda que não totalmente satisfatórias – de uso e em muitos casos, estão localizadas em zonas centrais de grandes cidades.

Assim, igual que um automóvel dos anos 40, ou um móvel de 1800, um edifício ou bem uma residência unifamiliar, podem – e devem -ser objetos de restauração ou bem de uma reabilitação o que seria um processo up-cycling.

Numa escala um pouco mais ampla, podemos chegar a uma infinidade de “povoados” (“pueblos”) que em um passado as vezes longínquo outras nem tanto foram por algum motivo perdendo seu protagonismo e sua capacidade de reter sua gente e até mesmo atrair pessoas de fora. Foram então, perdendo população que migraram normalmente para centros maiores atraídos pela oferta de trabalho, moradia, qualificação, enfim por aquilo que seriam melhores condições de vida.

Atualmente, com a derroca do emprego formal, que com a mecanização dos processos industriais e comerciais, substituiu grande quantidade da mão de obra por maquinas, também pela implantação e implementação dos terminais de auto-serviço e dos serviços informáticos que podem ser realizados diretamente pelo consumidor, sem a necessidade de um vendedor ou de um atendente, a redução do efetivo de trabalhadores se faz notar nos grandes centros.

Vem de encontro, a necessidade da retomada do campo e de seus povoados que se num assado foram deixados por que os grandes centros ofereciam vantagens, hoje tornam-se interessantes pela possibilidade de voltar a uma vida menos dura da cidade grande e com outras possibilidades de levar a diante trabalhos pessoais, seja no campo mesmo (cultivos, criações, extrativismo, etc.) seja na produção intelectual ou em trabalhos não presenciais, que possam ser executados em casa por exemplo, entre tantos outros modos de ganhar a vida.

Assim, em países como a Espanha especificamente, porém de uma maneira geral em toda Europa, encontraremos situações parecidas: pequenos “pueblos” com séculos de vida e com apenas algumas dezenas de habitantes. Existem por tanto mais casas que pessoas nestes lugares.

Um movimento conhecido como “slow cities” teve origem em outro iniciado anteriormente (slow food) que se contrapunha aos fast-foods, propondo a alimentação com prazer da degustação e de uma boa digestão e se possível acompanhada de uma breve “sesta” no lugar de comer um hambúrguer industrializado em 10 ou 15 minutos e voltar correndo ao trabalho, o slow cities ou inicialmente “Cittaslow” (teve origem em Orvieto – Itália em 1999) propôs que pequenos pueblos voltem a ter comercio local, vida própria, alimentação a base de produtos locais, etc. Que as vias de circulação sejam preferente para pedestres e ciclistas, mas que no caso de circularem veículos a motor, seja com velocidade limite de 30 km/h. 

O slow cities, ganhou uma enormidade de adeptos e existem como uns 500 ou mais comunidades atualmente participantes desta rede de cidades cujo objetivo maior é manter seus cidadãos envolvidos com a realidade de seus municípios e estes inseridos em um conceito de manutenção das tradições e por conseguinte gerando um processo altamente up-cycling.

O “nosso” caso: Busca e captura!

Há questão de uns dois anos atrás, nos pusemos (Joy – a esposa – e eu) a buscar algo assim: Uma casa, num “pueblo” pequeno, que fosse possível restaurá-la com nossas próprias mãos. Quero dizer: Fazer um up-cycling urbano.

Já tínhamos algumas experiencias anteriores tanto com imóveis (sou engenheiro civil e havia trabalhado com algumas obras de restauração e também temos um imóvel de 1928 que “reformamos” – sem muitas alterações, mas neste caso com mão de obra de outros) como com móveis, roupas, etc. (Joy é PhD no assunto, não pode ver uma cadeira no lixo, ou mesmo roupas em brexós: leva sempre para casa, “customisa”, reforma, dá-lhes sobre vida).


Figura 2 – A reforma da Casa Leal (1928) em obras e concluída - Curitiba - 1994

A busca seguiu um critério que seria encontrar algo dentro de nossas limitações económicas não somente para a aquisição, mas para cumprir todo o processo ou seja, adquirir, documenta, pagar os impostos de compra, reabilitar e poder usar este imóvel de forma quase que como nossa casa ou residência.

Como método, utilizamos a busca por portais de internet e quase que prioritariamente o “idealista”. Encontramos uma centena de imóveis ao longo de um ano de busca. Contactamos a umas dezenas de proprietários e visitamos a umas 30 ou 40 casas, até nos decidirmos pela que compramos. Não tínhamos nenhuma pressa, nem estávamos necessitando faze-lo. Buscávamos comprar algo que fosse-nos conveniente e creio que muitas outras pessoas poderiam fazer o mesmo.

Após havermos topado até mesmo com palacetes do século XVIII em estado razoável e por um valor relativamente irrisório (assim digo pois a reabilitação ou restauração do mesmo poderia sair excessivamente cara) e também com verdadeiras ruínas que para deixá-las úteis, os processos regenerativos do tipo up-cycling não seriam os mais indicados, finalmente encontramos (e ela a nós) uma “simpática” casinha do ano de 1930 geminada a outra de 1900, esta já toda demolida, ao menos a parte que se entremeava com a primeira (uma peça no térreo e outra no andar de cima), no pueblo de Villar del Infantado – Cuenca.



Figura 3 – Palacete visitado em Villamuriel e casa em ruína em Arenillas de Villadiego ambos produtos interessantes para serem reabilitados.

A casa tem a composição básica das casas consideradas como elementos da arquitetura popular desta zona e está composta por 3 níveis: No terreo está o “portal” – entrada para a casa, sala, cozinha e banheiro, num pavimeto superior está a “alcoba” – os quartos ou “habitaciones” e em um terceiro piso, mais acima, está a “câmara” – algo como um grande depósito onde ficavam os grãos das colheitas, as ferramentas de trabalho no campo, etc. Está construída de pedra arenítica, madeira e alguma coisa de elemento cerâmicos. Suas telhas são as originais da casa do tipo colonial.

O piso no pavimento superior (alcoba) é todo em ladrilho hidráulico (baldosas) decorado em 3 cores, original da casa. As janelas e a porta do balcão superior em madeira e a porta e janela do banheiro em ferro feita por serralheria.


Figura 4 – Esquema construtivo da arquitetura tradicional popular da Alcarria.

Tivemos que voltar dois ou três dias após a visita para comprovarmos o que havíamos visto e se efetivamente era o que queríamos e então fechamos a compra da que fora a propriedade de D. Dioniso Beneit, antes de D. Maximiliano (até 1953) e no momento da compra das herdeiras Jacinta, Maricarmen e Marisa. Desde a vista inicial até a assinatura da escritura no notário não passaram sequer duas semanas.

A aquisição portanto foi de dois imóveis – um de 1930 que continha a casa e outro com dois cómodos metidos entro da planta da casa edificados em 1900 e um pedaço de terreno, de aproximadamente uns vinte dois metros quadrados. Era o que buscávamos. A “casita” estava localizada a 140 km de Madrid e em ponto de colocarmos em marcha um up-cycling. Além de tudo tinha um “quintalzinho” para fazer um jardim, uma hortinha. Era o que queríamos.

Up-cycling urbano – “La Casita Bonita”

         Villar del Infantado teve origem Celta há muitos séculos atrás. Ainda há resquícios de sua permanência que diz a história haver sido de alguns séculos. Na conquista “moura” (entre 743 e 1492), teve em sua montanha o que ainda chamam de “castillo” que foi certamente a residência de algum árabe, que criva cavalos nas terras da “alcarria cuenquense” onde está os términos municipais do “pueblo”. A igreja, marco do cristianismo, data do século XVI e é em homenagem a Santiago Apóstolo, embora o Santo padroeiro seja São Roque (16 de Agosto é a festa maior).


Figura 5 – O “pueblo” visto desde “El Castillo” – montanha em frente. Ao fundo Olivares e terras de cultivo.

         No “pueblo”, existe uma fonte de água cujo manancial é o mesmo que uma das melhores águas minerais engarrafadas e vendidas na Espanha e na Europa (Solan de Cabras) e o rio que irriga as terras de cultivo, é um dos braços formadores da represa de “Buen Dia”. A atividade predominante é a agricultura (hoje massiva) e a pecuária caprina.


Figura 6 – A fonte de água do “pueblo”.

         Existem 50 pessoas “empadronadas” (residentes de fato) no “pueblo” embora a quantidade de casas seja muito maior. Existe um grande percentual de imóveis já em ruína, por outra parte existe construções novas, que acabam de ser concluídas.

Durante as duas semanas que separaram a ida inicial ao imóvel e a compra do mesmo, fizemos alguns planos iniciais para o que seriam as obras de reabilitação da casa.

Primeiro de tudo, teríamos que desocupar a casa, pois havia sido transformada em um “trastero” (deposito de coisas que não se usa mais). Procuramos com isso fazê-lo de maneira mais up-cycling possível. As roupas foram levadas todas a igreja de Alcocer (um pueblo ao lado, que tem um programa de caridade na igeja). Os objetos pessoais e móveis foram na medida do possível utilizados na própria casa.

Eletrodomésticos (tinham mais de 20 anos a maioria e já se encontravam bastante deteriorados pelo uso anterior e o desuso nos últimos anos) foram levados ao “punto límpio” (local destinado para receber materiais deste tipo e no caso serem processados de forma down-cycling).


Figura 7 – Maquina de lavar roupa, geladeira e mais acima e ao lado aquecedor a gás de passagem, que foram retirados e levados ao “punto limpio”

Uma vez retirados os objetos não desejáveis e armazenados na câmara aqueles que seriam posteriormente recuperados por nós mesmos, tratamos de contratar uma mão-de-obra local para realizar os serviços brutos (demolições e algumas construções novas) no interior da casa. Estes serviços, além de pesados para realizarmos, dependeriam de equipamentos e transportes de materiais, que tão pouco tínhamos a disposição.

Abrimos a casa ao terreno que futuramente seria nosso jardim-horta. Nesta abertura, depois, colocamos uma porta que era de um dos quartos da alcoba. Porta seguramente dos anos 1900 e destinada para uso externo. Através desta abertura e antes da colocação da porta, foi por onde retirou-se o material da demolição da chaminé e das paredes internas.

Havia uma chaminé que cruzava de cima a baixo todo o corpo da casa, que antigamente fora a chaminé da cozinha da casa que já havia sido demolida. Não tinha utilidade alguma portanto e havia que realizar algumas aberturas entre as peças desta e da outra casa, além de uma reforma substancial no banheiro, incluindo instalações hidráulicas e sanitárias novas.


Figura 8 – Abertura ao terreno dos fundos e início da demolição da chaminé na câmara da casa.

Havia também a necessidade de colocação de um balcão em uma porta-janela exterior que mandamos fazer sob medida em um ferreiro em Cañaveras (um outro “pueblo” da região).

A execução destes serviços durou aproximadamente um mês, antes já havíamos tardado quase um outro mês em “desalojar” o imóvel e em encontrar a um empreiteiro local que se dispusesse a realizar os serviços que desejávamos.


Figura 9 – Obras em andamento.


Figura 10 – Obras em andamento. Acondicionamento e instalações do banheiro


Figura 11 – Avanço das obras.

Figura 12 – Situação externa: porta colocada e com o balcão na segunda imagem.

Findadas as obras de maior envergadura, nos pusemos a realizar os serviços de acabamento interno e de recuperação de objetos e móveis deixados na casa, além de execução das instalações elétricas e de execução da cozinha e de algumas prateleiras que serviriam como armário, no que antes era um quarto e hoje é uma saleta íntima.


Figura 13 – Poltronas (“sillones”) em início de restauração.

Pintamos toda a casa, incluindo o lixamento e a aplicação de gesso nas trincas das paredes, instalamos a estufa e seu chaminé metálico, retiramos um armário existente em alumínio e vidro que era a antiga “despensa” (este levado pelo empreiteiro para reaproveitamento), executamos alguns acabamentos como pequenas esquinas de paredes internas.


Figura 14 – Pintura da saleta íntima.

Figura 15 – Execução de algumas esquinas em alvenaria com “rasillón” e “escayola” – no caso na cozinha.

Concluímos alguns serviços que foram deixados no bruto, como o piso do quarto de hóspedes e a regularização das soleiras das passagens nas aberturas dos cómodos da “alcoba”. Colocamos a porta-janela do quarto de hóspedes, que fora encomendada sob medida ao serralheiro de Cañaveras.


Figura 16 – Porta-janela colocada e piso acabado no quarto de hóspedes.

Recuperamos o madeiramento das vergas do teto da planta baixa e a viga principal que é uma peça única em madeira lavrada que em outros tempos fica oculta sob argamassa de gesso e que agora está aparente.  


Figura 17 – Viga principal e vergas de madeira lixadas e aparente.

         Quando estávamos iniciando a pintura, decidimos colocar-lhe nome a casa e o que nos ocorreu foi “Bonita”. Realizamos um mosaico com pedacinhos de cerâmica de azulejos azul e vermelho e finalmente passou a chamar-se “La Casita Bonita”.

         No inverno, mais precisamente o mês de Dezembro, passamos todo na casita. Foi quando executamos a cozinha com piso de laminado de madeira sob contra piso de argamassa de cimento e areia, e tampos executados com material próprio para isso. Para trazer esse material, bem como geladeira, máquina de lavar, placa de vitrocerâmica, alguns móveis igualmente adquiridos em loja e móveis usados, tivemos que alugar uma furgoneta por 24 horas. Fizemos o recolhimento de tudo e transportamos até a casa em uma única viagem.

Figura 18 – Tampo da cozinha com pia e fogão elétrico (vitrocerâmico) embutidos, geladeira, maquina de lavar e ao fundo chaminé metálico da estufa instalada.

         Ainda durante este mesmo inverno, contratamos a um obreiro de Valdeolivas (outro “pueblo” vizinho) para executar a alvenaria com blocos de concreto e a colocação dos pilaretes metálicos para delimitar o terreno dos fundos da casa.


Figura 19 – base do muro delimitador do terreno dos fundos onde será mais tarde jardim-horta da casa.

         No início deste verão, retomamos as obras e a restauração dos móveis, que fora interrompida após o inverno devido ao foco no nascimento de nossa netinha (inicio de Abril) em Figueira da Foz – Portugal.

         O primeiro foi concluir o jardim-horta, demarcando os canteiros e colocando um fechamento executado em tiras de bambu vendido em rolos de 5 metros por um. Pintamos também as portas e janelas da fachada principal e substituímos o lavatório do banheiro, que havíamos deixado o que estava, mas devido ao tamanho dificultava a mobilidade interna. Assim com um bem pequeno que havíamos visto em uma loja de material hidráulico em Cuenca (capital da província), resolvemos o problema. Na parede executamos um mosaico com sobras de azulejos e alguns porta copos cerâmicos.


Figura 20 – Jardim-horta em seu início.


Figura 21 – piso da “terraza” do jardim-horta para desfrutar do ar livre e tomar a “fresca” pelas ardes quentes do verão ibérico.


Figura 22 – Cozinha com cortinado na parte inferior do balcão e o novo lavatório do banheiro com o mosaico na parede. Em ambas imagens se nota os problemas com a pintura do pavimento térreo.

         O processo até o presente momento leva já um ano. A casa está cómoda, embora existam problemas com a pintura do piso térreo e com a colocação do termoelétrico no banheiro (embora esteja funcionando de maneira bastante satisfatória) e alguns outros tantos derivados da própria idade do imóvel.


Figura 23 – Aspecto atual da sala de estar onde está a estufa, os “sillones” e a mesa de centro.


Figura 24 – Saleta íntima com armários laterais (cortinado) à chaminé em alvenaria que conduz ao telhado a fumaça da estufa a lenha da sala do térreo.


Figura 25 – Quarto (habitación) principal


Figura 26 – Quarto (habitación) para hóspedes.
         Estamos muito contente com o resultado. Gostaríamos que outros imóveis do “pueblo” fossem igualmente recuperados e que outros “pueblos” também pudessem ter essa mesma oportunidade que estamos dando, promovendo um up-cycling imobiliário e talvez até mesmo que se pudesse neste momento de crise, haver incentivos para projetos de recuperação de municipalidades inteiras, procurando preservar ao máximo os imóveis existentes, gerando processos up-cycling urbanos, reduzindo as demandas para a construção e sim utilizando-a para a reabilitação que é um processo que demanda menos energia, materiais e mão de obra.

         Evidentemente, que associado a um processo de recuperação do tecido urbano, deve haver algum projeto de recuperação do tecido comercial, não implicando diretamente na promoção de postos de trabalho, estes cada dia mais distantes da realidade, pois o trabalho já não mais existirá creio eu, mas na promoção de modos de viver alternativos com o retorno a algumas atividades do campo e da vida mais simples e mais humanizada que esta situação possa vir a promover. Algo como a direção em que caminha o coletivo das cidades slow.


Figura 27 – Fachada em que a alteração consistiu na pintura dos elementos (porta, balcão metálico, porta do quarto e janelas) na cor branca, que originalmente eram em cor verde.

         Falta-nos ainda concluir o uso total do imóvel, com a recuperação da câmara, que encontra-se desocupada total e é um espaço genial, bastante acolhedor. Tem a área em planta da casa toda (42 m2) e bastante altura (varia de 4,5 m a 2,0 m), podendo ser utilizada em sua totalidade.


Figura 28 – Aspecto actual da câmara.

         Será dado uso lúdico-recreativo-profissional, ou seja dera um ambiente polivalente que contemplará ao mesmo tempo espaço para trabalhos manuais e intelectuais, bem como para recreação – algo como um pequeno estúdio musical talvez – e um espaço para deixarmos nossos livros, fotografias, etc. que por ora ainda estão em caixas e nos armários.

Estou seguro de que o que fizemos em um ano, com nosso trabalho pessoal e com a contratação de algumas partidas específicas de mão-de-obra, é possível de ser realizado por qualquer pessoa ou casal ou família e o resultado será sem dúvida satisfatório.